O reservatório da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, situado na Bacia do Rio Tocantins, foi concebido para ser o maior em volume na América Latina, com uma capacidade total de 54,4 bilhões de metros cúbicos. Mas, percorrer o lago é testemunhar a profunda agonia de suas águas cada vez mais rasas, o que vai revelando troncos de árvores, grandes pedras e até pontes, que um dia foram cobertas pela inundação.
São cerca de 4 centímetros a menos de água por dia e, considerando que o período de seca vai até outubro, o cenário deve ficar bem pior, com prejuízo para a geração de energia, para criação de peixes e o turismo na região. De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável pelo controle da geração de energia e pelo nível dos reservatórios no País, Serra da Mesa chegou a 9,6% da sua capacidade total nesta semana.
Energia
Atualmente, o nível do lago está em 425 metros acima do nível do mar, mas com a cota normal, ele estaria em 460 metros. Com suas três unidades geradoras funcionando, a Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa tem capacidade para gerar 1.275 megawatts, o suficiente para atender 800 mil pessoas, ajudando a abastecer o mercado de energia elétrica do Sistema Interligado Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mas, esta semana, apenas uma unidade estava funcionando, com a geração de apenas 260 megawatts.
Segundo uma fonte que trabalha na usina, a expectativa é de que, em poucos dias, o reservatório atinja o menor índice já registrado, de 9,35% alcançado em 2001, chegando próximo ao volume morto e reduzindo ainda mais a geração de energia, com forte risco até de interrupção. Mesmo que começasse a chover hoje, um reservatório deste porte só apresentaria alguma reação de volume após 25 dias de chuva.
Atualmente, no País, somente outro grande reservatório tem situação pior que Serra da Mesa: o de Sobradinho, no São Francisco, que estava com 8,3% esta semana. Em nota, a operadora da Usina de Serra da Mesa, Furnas, informou que a usina está praticando vazões o mais próximo possível do mínimo de 300 metros cúbicos por segundo, determinado pela Agência Nacional de Águas (ANA), conforme Resolução 529 da ANA, de 19 de outubro de 2004. Por isso, a usina está operando com apenas uma máquina.
Estiagem
Segundo o ONS, o volume atual do reservatório está associado ao baixo volume de chuvas nos últimos anos. “As precipitações dos anos de 2015, 2016 e nos primeiros oito meses de 2017 estão entre as dez piores da série histórica”, diz a nota. O órgão ressalta que, assim como em Serra da Mesa, de uma maneira geral, as precipitações em todo o Sistema Interligado Nacional têm ficado abaixo da média.
Hoje, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste estão com 33,9% de seu volume; os do Nordeste com 13,2%; os do Sul com 60% e os do Norte, onde fica Serra da Mesa, com 53,8%.
O nível também foi afetado pela abertura das comportas para liberar água para outras usinas da Região Norte, como Tucuruí, como uma forma de transferência de energia. Com o baixo volume atual, isso nem é mais possível, pois a água nem chega a atingir a entrada das comportas.
Outro problema, segundo um técnico de Furnas, é a retirada de água do lago sem monitoramento e controle. Muitas vezes, obtém-se a outorga na ANA para retirada de água duas vezes por semana com um cano de 2 polegadas, mas coloca-se um cano de 6 polegadas para retirar água todos os dias. A situação é agravada pelas falhas na fiscalização.