Médicos relatam desgaste ao ter de decidir qual paciente está pior para ‘merecer’ vaga de UTI em Goiás: ‘Exausto psicologicamente’

Um médico, uma cardiologista e uma infectologista narraram a dramática situação vivida no último ano dentro dos hospitais onde trabalham. Cenas de desespero provocadas pela Covid-19.
Segundo esses profissionais, o cenário no ambiente de trabalho é de exaustão física e psicológica. Sendo reforçado diariamente com a superlotação das vagas de enfermaria e UTIs nas unidades públicas e privadas, o que acaba colocando sobre os médicos até a decisão de escolher qual paciente “merece” ir para o tratamento em um leito especial.
“Estou exausto mental e psicologicamente falando, e fisicamente também. Muitas vezes a gente tem que decidir qual paciente está pior para merecer uma vaga ou não. É muito desgastante do ponto de vista pessoal e profissional“, desabafa o médico Victor Bezerra.
O médico se formou há cinco anos e confessa que as faculdades de medicina não preparam profissionais para lidar com situações como as vividas nesta pandemia do coronavírus. Ele relata que há um preparo emocional para perder “um ou outro” paciente, mas não famílias inteiras em questão de quatro ou cinco dias.
“Acho que nem um combatente de guerra seria preparado para ver tanta criança, idoso, mulher e pai de família morrendo para um inimigo invisível. Se estivéssemos preparados para isso, seríamos todos psicopatas. É impossível não se compadecer”, destacou Bezerra.
Dados do Ministério da Saúde mostram que o país perde um profissional da saúde a cada 19 horas para a Covid-19.
Kécia Oliveira Amorim trabalha como cardiologista há 20 anos. A médica diz que perdeu muitos pacientes para a Covid-19, e chorou por todos eles. “Sempre me coloco no lugar dele”, disse.
Em apenas um dia, a cardiologista contou que viu 10 pacientes com coronavírus dando entrada no hospital onde trabalha. Três sofreram paradas cardíacas e dois morreram naquele dia.
“Temos que unir forças e acabar com essa situação de negacionismo porque é alarmante a situação de emergência“, pontuou a cardiologista.
A infectologista Ana Carolina Andrade, que trabalha na área há 14 anos, diz que os colegas estão muito fragilizados e vulneráveis.
“Foi um ano de perdas, das quais me lembro exatamente de cada um e de cada família. Todos os dias antes de sair eu peço a Deus que me ajude para ter sabedoria para saber conduzir meus pacientes do melhor jeito possível“, contou a médica.