O maior reservatório em volume de água da América Latina vive a maior crise dos últimos 15 anos. Desde o início da obra, iniciada em 1998, esse é o pior momento do Lago da Serra da Mesa, de acordo com registros históricos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
A Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, instalada em Minaçu, no extremo norte goiano, é indispensável para o atendimento do mercado de energia elétrica das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O abastecimento elétrico em Goiás e no DF dependem do reservatório.
Os impactos vão além das cifras de geração de energia elétrica — 150 pescadores atuam na região e cerca de 600 famílias vivem da pesca da tilápia na represa. Os 1.874 quilômetros quadrados de área inundada podem armazenar até 54,4 bilhões de metros cúbicos de água — hoje, o volume não chega a 6,5 bilhões de metros cúbicos.
O Lago da Serra da Mesa é 37 vezes mais extenso que o Paranoá, em Brasília, e o quarto maior do Brasil. Apesar da imponência, onde havia beleza, restou terra seca e poucas certezas para o futuro. A região costumava receber até 30 mil turistas na alta temporada. Hoje, o comércio amarga a mais severa crise da década. Lojas, restaurantes e pousadas fecharam. As imagens da prosperidade do turismo, da pesca recreativa e dos esportes aquáticos ficam na memória dos moradores da região.
Apesar de a crise ter batido mais forte agora, os sinais da escassez de chuva são notórios nos últimos cinco anos. Desde 2011, o pico negativo do lago é cada vez mais implacável. Formado principalmente pelos rios Tocantins, das Almas e Maranhão, as águas parecem estar cada vez mais distante do povo que construiu vida no rescaldo das ondas do lago no cerrado. O que era sonho, no fim da década de 1990, tem se tornado cada vez mais um poço assoreado de pesadelos.